Há quatro anos, quando perdi minha mãe, perdi, também, meu chão, meu porto seguro, perdi muito da minha vontade de viver. Paralelamente, estava num momento de grande envolvimento com o tarô. Deslanchava nos estudos, começa a me tornar conhecida no Orkut, ultrapassando os limites geográficos. Começava a dar cursos dos arcanos menores.
Foi um período de grandes mudanças. Por um lado, a vontade de largar tudo e me afogar em minha tristeza, aquietar-me no buraco escuro e sem fim que se fez em minha alma.
Por outro lado, sentia o chamado para envolver-me mais no estudo e na disseminação deste oráculo que há tão pouco tempo começou a ocupar um espaço em minha vida de maneira surpreendente, rápida e irreversível.
Tantas mudanças me deixavam tonta. Queria morrer, mas a vida insistia em me cutucar. Mais e mais pessoas se aproximavam de mim. Pessoas de diferentes lugares, com personalidades diversas, interesses múltiplos, mas com um desejo comum: esmiuçar, compreender, discutir e se envolver com o tarô.
E nessa deriva, deparei-me com uma psicóloga cromoterapeuta, que aliando o conhecimento acadêmico à sabedoria das cores e ao seu dom espiritual ajudou-me a encontrar a âncora que me prenderia novamente ao chão até definir a nova rota de minha vida.
Foi numa dessas sessões que deciframos um sonho estranho que descortinou um novo caminho e me devolveu a esperança e a fé.
Sonhei com minha amada e saudosa mãe. Não havia cenário, nem mais personagens. Apenas nós duas, num ambiente que podia ser qualquer lugar: vazio e inexpressivo. Sem passado ou história o sonho se resumiu a um pequeno, repetitivo e rápido diálogo.
Minha mãe me dizia: “você tem que colocar o prato na cabeça das pessoas”.
Angustiada, sabendo o que ela dizia, mas sentindo-me incapaz de obedecer sua ordem, eu retrucava:
- Mas como mãe? Eu não consigo fazer isso.
Com voz suave, mas firme, ela apenas repetia, como se não pudesse mais me orientar:
- Você tem que colocar o prato na cabeça das pessoas. Você precisa colocar o prato na cabeça das pessoas.
E assim se seguiu por alguns minutos, que me pareceram eternos. Acordei atordoada, confusa, curiosa. Sentia que minha adorada mãe era um mensageiro. Mais que uma ordem, era o anúncio de uma missão. Mas qual? O que queriam dizer aquelas poucas, mas tão curiosas palavras?
Ao relatar a experiência para Inácia, minha cromoterapeuta, desvendamos juntas o mistério. O prato é o utensílio que usamos para colocar nosso alimento, que nos nutre, nos dá vida, nos sustenta.
A cabeça é o órgão onde depositamos nossos pensamentos, nossos sonhos, nosso conhecimento. É nossa via de comunicação, de expressão, de interação com o mundo e com as pessoas. É a depositária e o guardiã de nossa sabedoria.
Entendemos, enfim, que colocar o prato na cabeça das pessoas é passar para elas a minha experiência, o meu conhecimento para que elas se nutram disso. É alimentar não o corpo, mas a mente daquelas pessoas que me buscavam. É transmitir para elas o conhecimento que alimentaria, além da mente, as suas almas. É disseminar o tarô!
E a partir desse entendimento, reconheci que não podia encerrar em mim o conhecimento que o universo me oferecia sobre esse oráculo maravilhoso. Que fazia parte de minha missão, colocar o prato na cabeça de mais pessoas que, por sua vez, fariam o mesmo e, assim, se formaria uma rede infindável e viva. Um caminho eterno que se propaga e envolve cada vez mais pessoas.
E hoje, depois de percorrer esse novo caminho sem volta, retorno aqui para cumprir, mais uma vez, a missão que recebi. Colocar o prato na cabeça de cada uma de vocês. Espero, do fundo de meu coração, que vocês se alimentem e se fartem desse alimento, mas que também, o compartilhem com outras pessoas famintas de sabedoria e orientação. Não coloquem o prato na cristaleira. Coloquem-no numa mesa comunitária. Multipliquem esse pão, para que nunca falte alimento à quem precisa. Façam sua parte e usem seus próprios temperos para saciar a alma das pessoas que encontrarem em seus caminhos. O prato é apenas um utensílio; quem escolhe e prepara o alimento que ele carrega somos nós. Então minhas amigas, coloquem o avental que eu as convido a serem as novas chefs do tarô.
Bem, agora vamos então diplomar as novas chefs. Pensei em pratos que combinem com cada uma das formandas.
A primeira turma, do Curso Completo de Tarô, eu costumo brincar que é formada por umas macumbeiras. Duas delas são espíritas e a outra ainda não resolveu, mas tem um pezinho no terreiro. Escolhi, então, comidas típicas de oferendas, pra relembrar o clima das aulas noturnas.
A primeira é uma estudiosa de umbanda. Conhece tudo dessa religião tão intrigante. E pra combinar com seu sorriso sempre largo, pensei no munguzá prá Graça Vieira lembrar.
A outra também gosta de um terreiro, mas não é tão disciplinada. Um prato que santo também gosta pode representar essa moça, que tem personalidade forte, consistente como o Vatapá. Valéria vem prá cá apimentá.
E a última é só curiosa. Tem intuição, mas tem medo e não deixa a crença fluir. Prá combinar com essa pessoa, inquieta e eletrizante, uma pipoca cai bem, pois Cássia fica nesse vai e vem.Vem, que o canudo é seu.
Já a turma do Avançado é mais eclética no quesito religião. As filosofias se assemelham e buscam sempre a união.
A primeira é uma chef que prá aprender a cozinha já foi para o exterior. Mas seu principal ingrediente é o amor. A batata turca Kumpir, prá ver a nossa querida Dodôra sorrir.
O Estrogonofe lembra bem nossa terceira formanda. Elegante, refinada e deliciosamente aconchegante. Inês, vem buscar o diploma, que chegou a sua vez
Um prato bem quentinho como o Sol que a ilumina, vai combinar com a terceira, que é da turma a mais nova menina. Dri, o caldo de legumes te representa aqui.
A quarta chef é muito doce e suave, como as quitandas que fazia com carinho. Então a Berna lembra a broa de fubá, acompanhada de um café quentinho.
A última desta turma, sempre some e desiste no meio do caminho. O prato para a Cris não poderia ser outro que não o escondidinho.
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